sexta-feira, 10 de abril de 2009

Comentários às lições 01 e 02 (01209 e 02209)

Por Alan G. de Sá*
Evangelista da Assembléia de Deus - Itaquerão,
Líder do Ministério Pescadores de Almas** e
Professor Convidado da EBD
As riquezas doutrinárias da Epístola aos Gálatas

A epístola aos Gálatas tem sido corretamente intitulada de Declaração da Independência Cristã. No entanto, é ao mesmo tempo uma missiva que nos mostra a nossa completa dependência de Deus. Nela, Paulo procura nos mostrar que a liberação da obrigação da Lei mosaica é, ao mesmo tempo, um relacionamento com Jesus Cristo através do Espírito Santo, o que pressupõe que passa a haver uma nova regra de fé e de vida que é necessária ser seguida pelos cristãos, porquanto todos são regenerados pelo legalismo. Por essa razão, essa epístola, acima de todas as outras, com a única exceção da epístola aos Romanos, é a Carta Magna da fé Cristã.

Ela continua falando à alma humana, em todos os tempos, sobre a sua maior necessidade: a salvação em Jesus Cristo. Mostra que a salvação não é obtida por meio das obras da Lei mosaica, mas pela fé em Jesus Cristo e no relacionamento com ele através do Espírito Santo.

Essa controvérsia entre a salvação pela fé ou pelas obras foi tão importante no início da Igreja - assim como é hoje -, que foi tratada no primeiro concílio de Jerusalém e registrado em Atos 15. Esse concílio resultou num pronunciamento a favor de Paulo e de suas idéias de liberdade cristã, porém constantemente os judeus legalistas eram oposição aonde quer que Paulo fosse, acusando-o e distorcendo os seus ensinos e anunciando “outro evangelho”, que dizia que só a fé em Jesus não bastava, mas também havia a necessidade de guardar a Lei e os ritos mosaicos como a circuncisão, que iniciou com Abraão.

Podemos perceber que, pelo conteúdo da carta, Paulo era acusado pelos seus opositores judaicos de não ser um dos apóstolos originais e, portanto, desprovido de autoridade direta (1.1,7,12; 2.8,9), e que a sua mensagem era diferente da pregada em Jerusalém (1.9; 2.2-10), pois a mensagem de graça por ele pregada resultaria em uma vida iníqua (5.1,13,16,19,21).

De Éfeso, ou mais provavelmente da Antioquia da Síria, esta carta teria sido escrita em 49 d.C., fazendo dela a primeira carta paulina e o mais antigo escrito do Novo Testamento, após a sua primeira viagem missionária (At 13,14) e pouco antes do concílio de Jerusalém (At 15).

A ênfase que Paulo dá à sua chamada para o apostolado mostra que ele está na defensiva porque a sua autoridade como ministro de Cristo foi posta em dúvida, mesmo ele tendo sido o fundador dessa igreja durante sua primeira viagem missionária.

A introdução à carta é de um tom mais seco e duro do que a das outras cartas (não faz nenhum elogio aos Gálatas). Paulo mostra logo no início (vv. 1 e 4) os temas principais de sua carta: A defesa da sua missão de apóstolo (capítulos 1 e 2) e a exposição do seu evangelho da salvação em Jesus Cristo, o fundamento da liberdade cristã (capítulo 3 ao 6).

A carta de Paulo aos Gálatas é valiosa para nós, pois nela Deus nos mostra a preciosa verdade de que “o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo...” (2.16) e que “em Cristo Jesus, nem a circuncisão nem a incircuncisão têm virtude alguma, mas sim, o ser uma nova criatura” (Gl 6.15).
Que Deus, através de Sua Palavra e de seu Santo Espírito, nos ajude a compreender estas eternas verdades para que cada um de nós possa conduzir vidas a experimentarem da verdadeira salvação e liberdade que Ele nos oferece através de seu Filho Jesus Cristo.

A apostasia causa confusão e divisão na igreja

Como vimos, a questão com que Paulo tem de tratar em sua carta aos Gálatas é sobre a controvérsia judaizante em torno da qual se reuniria o concílio de Jerusalém em Atos 15.

Muitos dos primeiros cristãos, por serem judeus, em grande medida continuaram a viver segundo os costumes e práticas judaicas, como ir ao templo de Jerusalém e oferecer holocaustos, observando a Lei mosaica e mantendo-se distantes dos gentios (At 15.1,2). Porém, a conversão dos gentios forçou a Igreja a enfrentar, pelo menos, três questões importantes:

1º - Deveriam os cristãos gentios ser obrigados a submeter-se á circuncisão e a praticar o modo de vida judaico, conforme exigido dos novos convertidos gentios que entravam no judaísmo?

2º - Para o caso daqueles gentios cristãos que não estavam dispostos a tornarem-se totalmente judeus, a igreja deveria conceder uma filiação de segunda classe, como ocorrida no caso dos gentios “tementes a Deus” dentro do judaísmo?

3º - E, mais importante ainda, o que é que faz alguém se tornar cristão: a fé exclusivamente em Cristo ou a fé em Cristo MAIS a adesão a princípios e práticas do judaísmo?

Toda essa situação causada pela conversão dos gentios e judeus aos cristianismo e também pelos judaizantes como aqueles citados em Atos 15.1-5, levou muitos cristãos a abandonarem o evangelho da graça pregado por Paulo e retornarem aos costumes judaicos.

Esses líderes e pregadores levaram o povo da Galácia e de outras partes a abandonarem a graça dada pelas boas novas de Jesus Cristo, perdendo sua liberdade cristã. Esses pregadores e seus seguidores entraram pelo perigoso - e muitas vezes sem volta - caminho da apostasia.

O QUE É APOSTASIA?

Apostasia vem do grego e significa “afastamento”, “um abandono ou deserção da fé”. Em forma nominal, encontra-se somente por duas vezes no Novo Testamento: Atos 21.21 e 2 Tessalonicenses 2.3. Apesar da definição parecer simples, não é tão simples a sua aplicação.

Conforme explica Russell N. Champlin, no Novo Testamento, há a distinção entre o apóstata e o herege.

Aos crentes, é ensinado que deve-se tentar preservar a comunhão com eles (Tt 3.10), porém a condição dos apóstatas é irreversível (II Ts 2.10-12; II Pe 2.17,21, Jd 11-15; Hb 6.1-6). Ela é caracterizada por uma rejeição à divindade de Cristo (1 Jo 2.22,23; Judas 4) e Sua morte expiatória (Fp 3.18; 2 Pe 2.1; Hb 10.29). Deus retira deles toda a possibilidade de salvação. A apostasia é uma catástrofe irreparável.

Entre os gálatas estavam acontecendo os dois extremos: uns voltaram às práticas do judaísmo, crendo que apenas a graça de Cristo não era suficiente para salvação; e outros estavam usando da liberdade em Cristo como pretexto para pecar.

São dois extremos condenáveis pela palavra de Deus, que nos exorta a vivermos no Espírito e na Palavra de Deus, assim ligados na videira verdadeira, que é Cristo (Jo 17.17; Gl 5.16-22).

CONCLUSÃO

É perigoso quando nós, cristãos, tendo experimentado a suficiência de Cristo, nos entregarmos aos nossos antigos caminhos de pecado e práticas antigas, como pretexto de liberdade cristã. O crente não é livre para fazer o que quer, mas sim o que deve. A dispensação da graça é muito mais séria do que a da Lei:

“Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no Reino dos céus” (Mt 5.20)

Por outro lado, é perigoso quando agimos como se a fé em Jesus Cristo não fosse suficiente para salvação, presente e futura, e acrescentamos à Palavra de Deus modismos que não contêm nela.

Deus não disse, por exemplo: objetos ungidos com “unção especial” para purificar o ambiente, a ”água do Jordão”, “oração no monte Sinai”, e etc.

Fica para nós a única salvaguarda contra a apostasia extrema:

“Portanto, como diz o Espírito Santo, se ouvirdes hoje a sua voz, não endureçais o vosso coração...” (Hb 3.8).

“Vós, portanto, amados, sabendo isso de antemão, guardai-vos de que, pelo engano dos homens abomináveis, sejais juntamente arrebatados e descaiais da vossa firmeza; antes, crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja dada a glória, assim agora como no dia da eternidade. Amém!” (2 Pe 3.17-18)

BIBLIOGRAFIA:

BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, ed. CPAD;
BÍBLIA DE JERUSALÉM, ed. PAULUS;
GUNDRY, Robert H. Panorama do Novo testamento. 3ª edição revisada e ampliada. Ed. Vida Nova;
CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Teologia, Bíblia e Filosofia. Ed. Hagnos.
DICIONÁRIO BÍBLICO WYCLIFFE. Ed. CPAD.
*www.manejandobemapalavradaverdade.blogspot.com
**www.pescadoresdealmasitaquerao.blogspot.com

Um comentário:

Anônimo disse...

A Paz do Senhor, irmãos!

Vai aí um pequeno complemento deste assunto, retirado da Bíblia de Estudo Pentecostal:

Os Passos que levam a apostasia são:
a)O crente, por sua falta de fé, deixa de levar plenamente a sério as verdades, exortações, advertências, promessas e ensinos da Palavra de Deus (Mc 1.15; Lc 8.13; Jo 5.44,47;8.46).
b) Quando as realidades do mundo chegam a ser maiores do que as do reino celestial de Deus, o crente deixa paulatinamente de aproximar-se de Deus através de Cristo (4.16; 7.19,25;11.6)
c) Por causa da aparência enganosa do pecado, a pessoa se torna cada vez mais tolerante do pecado na sua própria vida (1 Co 6.9,10; Ef 5.5; Hb 3.13). Já não ama a retidão, nem odeia a iniquidade (Hb 1.9);
d)Por causa da dureza do seu coraçã (Hb 3.8,13) e da sua rejeição dos caminhos de Deus (Hb 3.10), não faz caso da repetida voz e repreensão do Espírito Santo (Ef 4.30; 1 Ts 5.19-22; Hb 3.7-11).
e)O Espírito Santo se entristece (Ef 4.30; Hb 3.7,8); seu fogo se extingue (1 Ts 5.19) e seu templo é profanado (1 Co 3.16). Finalmente, Ele afasta-se daquele que antes era crente (Jz 16.20; Sl 51.11; Rm 8.13; 1 Co 3.16,17; Hb 3.14).

Deus abençoe. Bons estudos!